Bancas de jornais ampliam mix de produtos e viram loja de conveniência
Com informações online, jornaleiros se adequam ao novo mercado.
Pesquisa em 3.352 estabelecimentos traça o perfil das novas banquinhas.
Luciano Calafiori
Do G1 Campinas e Região
O jornaleiro Miro, que tem banca em Campinas
há 48 anos (Foto: Luciano Calafiori/G1 Campinas)
Se a
tecnologia
permite ao brasileiro acessar informações e entretenimento em tempo
real pelo computador, tablet ou mesmo com um toque no celular, o
jornaleiro nosso de cada dia se lançou no varejo transformando as
tradicionais banquinhas de jornais e revistas em lojas de conveniência,
onde se vende de tudo um pouco e até pela rede mundial de computadores.
Pesquisa da agência Toolbox TM- Trade Marketing Know How, feita com
3.352 estabelecimentos em vários estados brasileiros, aponta que 68% das
bancas vendem também gomas e confeitos e 52%, bebidas refrigeradas. E
12% dos pontos visitados oferecem serviços com máquinas de fotocópias.
Jornaleiro há 48 anos em Campinas (SP), Waldomiro da Silva Ribeiro, da
Banca do Miro, aumenta a lista de produtos que hoje compõem o novo
cenário das bancas. “Vendemos cartão de recarga de celular, cartão zona
azul e fazemos plastificação de documentos para ficarmos abertos”,
conta.
Banca de jornal tradicional fechada em Campinas
(Foto: Luciano Calafiori/G1 Campinas)
Somente em Campinas, que tem 237 pontos oficiais de
vendas
de jornais e revistas, 13 fecharam as portas entre 2010 e 2012, segundo
a Setec-Serviços Gerais de Campinas, autarquia que administra o uso do
solo. “É a pior fase que estamos enfrentando”, afirma Valmar Neto
Ribeiro, que ajuda a administrar a Banca do Miro. Ela conta que é do
tempo que apenas jornais, revistas e figurinhas garantiam o ganha pão.
Mas há quem ainda recorra às jornaleiros para produtos tradicionais.
“Venho aqui comprar jornal e também figurinhas do álbum do Campeonato
Brasileiro para o meu neto”, conta um cliente que prefere não ser
identificado.
A pesquisa do perfil das bancas de jornais retrata ainda que, no estado
de São Paulo, 65,6% vendem livros e 54,4% comercializam cigarros. Em
média, as bancas faturam R$ 900 por dia nas maiores cidades. Em
municípios de médio e grande porte, como Ribeirão Preto (SP) e Campinas,
a maior parte dos comerciantes não responderam à pergunta. Já 35%
disseram que faturam de R$ 100 a R$ 450. Outros 9% disseram que faturam
entre R$ 451 e R$ 900. Para 5%, o ganho diário vai de R$ 901 a R$ 1.350.
Denílson Falsarella, um dos administradores da Banca do Alemão, que
funciona no cruzamento da Avenida Francisco Glicério com a Rua General
Osório, principal centro comercial de Campinas, relata que a venda de
jornais impressos teve queda nos últimos anos por causa da internet, mas
o negócio da família continua de pé devido ao novo perfil adotado no
comércio, que está aberto há 60 anos.
“Com a internet, as vendas caíram um pouco, mas nós diversificamos.
Vendemos bala, água, boneco mascote de time e temos clientes para
coleções, que vão de carrinhos a pratos. É um bom negócio. Aquele
jornaleiro que parou no tempo fecha as portas”, explica Falsarella.
A banca do Alemão aposta ainda nas publicações que estão em alta, como
gibis para o público adolescente e adulto, como os da Marvel, e nas
apostilas de concursos públicos. No início de agosto o país tinha 43 mil
vagas em concursos públicos abertos. A região Sudeste possui 444
processos seletivos abertos, sendo que mais da metade são no estado de
São Paulo.
O jornaleiro Carlos Henrique Orlando, da Banca do
Jabá (Foto: Divulgação/Carlos Henrique Orlando)
Se por um lado os jornaleiros apontam que as facilidades do mundo
virtual ajudaram a mudar o perfil das bancas de jornais, a internet
também já é usada como janela de vendas. O comerciante Carlos Henrique
Orlando, o Jabá, de Santa Cruz do Rio Pardo (SP) tem perfil do seu
negócio no Facebook, em um blog e no Twitter. “Vou colocando tudo nas
redes sociais, para divulgar a banca”, conta o jornaleiro que há 20 anos
trabalha no ramo. “Vou colocando as fotos e oferecendo brindes e
observo que uma coisa puxa a outra”, relata Jabá, que consegue venda de
revistas e coleções por meio virtual, que resultam em comercializações
reais. Depois de fechado um negócio, ele envia o produto para cliente.
“Muitas vezes um lançamento sai em uma determinada região do país e em
outra não. Aí o cliente vê na internet e me pede”, explica Jabá.
Mas na banca física, ele também diversifica para criar clientes
futuros. Com a ajuda de uma professora, ele recebe a visita de crianças
de uma escola. Depois de uma palestra de como funciona o dia-a-dia da
profissão, ele mostra os produtos que estão à venda. “As crianças são um
filão. Temos que pensar na banca lá na frente”.
Diversificar às vendas e se enquadrar nas novas realidades do mercado
são os caminhos apontados por especialistas consultados pelo G1. Para o
consultor do SEBRAE Sérgio Diniz, a banca tradicional, que só vende
revistas, jornais e figurinhas não vai sobreviver por muito tempo. “O
jornaleiro tem que estudar o ponto, o poder aquisitivo de quem é cliente
em potencial e se tiver outra banca próxima, estudar a concorrência”,
relata. Investir em tecnologia também é uma aposta segundo ele, porque
os clientes estão cada vez mais exigentes. “É preciso procurar se
atualizar, ter as noções de marketing. Tem que mostrar sua imagem, o
jornaleiro é um vendedor”, explica.
“Jornaleiros com espírito empreendedor, que tem visão ampla do mercado
que atuam, investindo no ponto de venda e trabalhando na fidelização de
seus clientes, persistem e se destacam no mercado. É um perfil diferente
do jornaleiro que começa a aparecer com mais frequência em diversas
cidades”, afirma Sérgio Ferreira, gerente de Trade Marketing da Dinap,
empresa responsável pela venda de 70% das vendas avulsas de revistas,
que atende 2,6 mil municípios brasileiros.
Miro, jornaleiro do Centro de Campinas, atende clientes (Foto: Luciano Calafiori/G1 Campinas)
FONTE http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2012/08/bancas-de-jornais-ampliam-mix-de-produtos-e-viram-loja-de-conveniencia.html